Histórias, Estórias & Versos

Carta de Terencio

05-02-2012 00:00

 

Perdiz, Primavera de mais um ano da graça de Nosso Senhor.

Amigo Tchê Loco, espero que este chasque vá te encontrar bem gordo e são de lombo, nós por cá temo índio como dizes tu, muita lide e pouco cobre, mas depois que tudo estiver nos conforme penso que vamo se da bem. To te mandando este chasque pra te contar das coisas de a cá. Bueno! No outro dia, depois que tu te foi, começou o grande mutirão, hoje Perdiz é uma realidade, a represa foi construída e recebeu nome de Represa Juvenal Alves que, como tu sabe, é o nome de batismo de Tchê Loco, a vista ficou bem aquele que tu me disse que viu no sonho, inté o tal de mirante fizeram, o grande lago que se formou encobriu todo o vale do Rio Muerto e a Esperança no Sul, o povo passou a o chamar de “Alago” e o nome ficou. Uma manha destas me fui pra lá pra ver o dia amanhecer e inte fiquei pasmado, tinha serração e conforme o sol ia surgindo à luz parece que ia furando a serração, coisa mais linda eu não vi! A intendência construiu também um barco a vela que recebeu o nome de “Poeta”, sugestão da minha velha e por votação foi o nome escolhido, ai dias em que o intendente e o vice se pilcham a caráter e fazem passeios no Alago, mas no barco o Capitão é o Inocêncio Core e o imediato é o Fermino Razy.

Lembra que te falei que aquela Galega não ficava muito tempo por cá? Pois é, infelizmente eu tava certo, penso que nós cá não somos a platéia que ela almeja não me arrependo do mutirão, pois sempre me alembro do que te disse o Mouro, mas a gente tem mais é que valorizar as coisas buenas que ficam e esquecer as coisas ruins e por falar nisso, nem te conto! Minha velha fez um tal de regime e ta mais fina que assovio de papudo! Noite dessa ela fez uma dança pra mim parecida com aquela da Galega, pedi pra ela de como era o nome da dança e ela me disse que era “tempero”, fiquei meio cismado, pois tempero que eu saiba é coisa que se põem na bóia, mas achei melhor não retrucar. No mas era isso que eu tinha pra te contar, temo por cá esperando por uma visita tua, minha velha e a guria te mandam lembranças, um quebra costelas bem chinchado pra ti e que o Patrão velho lá de riba sempre te proteja e se encontrar aqueles dois pesteados o Tarugo e o Tinoco diga que mandei também um quebra costelas pra eles, pois fiquei querendo bem aquelas duas pragas.

Pois é Tchê Loco agora semo tudo filho de Perdiz, pois não existe mais nem uma Esperança no Sul.

    Terencio Ferreira  

 

Texto do livro  Crônicas ou coisa parecida, "Taipas"

 

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